03 julho, 2011

DESISTI ! ...


DESISTI ...

Já não suporto o cansaço
que bloqueia as palavras ...
que
Arrasta a língua
e cristaliza o sal das lágrimas
esculpidas nos olhos ...

À mercê da mente...

Petrifica o coração
constrói muralhas,
envelhece o rosto...

Desisti ...
de personalizar os carinhos ...
Desisti ...
desbravar montanhas, em linhas rectas de solidão ...
Desisti ...
de repartir migalhas, de abraços invisíveis ...
Desisti ...
de sentir o beijo, que nunca dei ...
Desisti ...
de arquitectar significados e metáforas nas palavras ...
Desisti ...
de adornar alicerces com os diamantes do meu amor...
Cravejados de respeito e pétalas brancas de flores ...
Desisti ...
de mendigar a nudez dos dias, das noites, do luar, da acidez
das gotas de chuva fria ...
Desisti ...
da repetição do sonho rosa e do sereno azul de um verão...
Estações ...
Derivando nas manhas do tempo, equinócios ...
Desisti ...
Das partidas por túneis escuros, onde não encontrei caminhos ...
Fiz pontes e entrelaçarei os afectos...
Desisti ...
de ser o projector da tua luz,
quando a minha enfraqueceu, e tu nem deste por ela ...
Desisti ...
de ser o holofote da tua prenuncia ...
Desisti ...
de fazer puzzles de pedaços de loiça, pintados com vida ...
Fragmentos que não me pertencem ...
Desisti ...
de abrir o velho baú, com cheiro a canfora ...
Onde velhos mapas jazem na saudade de um tempo que passou ...
A fé, no velho terço de madeira escura ...
Vidas atadas
nas cartas de folhas amareladas de atilhos vermelhos ...
Bolorentas ...
Fazem reluzir cada traço no meu rosto, que o tempo envelheceu...
O espelho de carteira,
acessório que agora escondo no fundo do baú ...
Que teimo não voltar a olhar ...
Desisti ...
De esperar numa estação, em que me deixaste ficar ...

DESISTI! ...

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