CARTAS AO VENTO 19/08/2012
Falavam-me de mim, de ti... de outros.
De todas as telas que meus olhos pintaram.
Desfolhando as páginas, baloiçava a corrente de ar de uma brisa envergonhada.
Nas mãos. O tino segura fielmente o livro...
Olhava para represa dos momentos que se deixaram ficar...
No peito, o beijar do coração liquefeito atenua a paz, da alma que sente que escolheu morar em mim...
Sozinha...
Sou o albergue das noites clandestinas, o templo de orações que aprendi a decorar ...
Fascínio do pecado apetecido.Sinais de desejos que não falam mas que aprendem a gritar.
A pagina do livro enegrecido.
O ponto de luz, tua cruz.
Silêncio imperfeito, a nascente no peito.
A muralha transversal, a solene conquista entre o bem e o mal.
Sou a Arca...
A Maré, uma Flor despida...
Gota de Sangue com vida ...
Gaivota arrependida, Andorinha atrevida ...
Sou o folheto da vida, numa obra inacabada.
Produto final, o desafio de cada moral .
Vácuo sentimental, de estações indefinidas.
Sou a teia, o jornal ...
A fome, a gula o açúcar e o sal.
O moliço de um espaço sideral, o cometa maternal ...
Sou! ...
....
Aladas as palavras que me procuram.
Que gravitam na mente, encontram o raciocínio dos sentidos que despertam razões, argumentam os factos de se existir depois de ...
De Partir ... deixar de estar presente fisicamente ...
Dar-vos-ei minha sombra num livro.
Não será propriamente o céu.
Nem um éden imune ás dores mas um ópio necessário que procureis nas horas vivas, que se julgam, morrer ...
Descreverei o Amor que agita o perfume da Saudade intemporal. ...
Eterna ...
Simpósio de cores vivas.
Queda livre do voo, onde resgato os sonhos e liberdade de expressões que cedem valores ás palavras que me atrevo a vos escrever.
Fazer-me-ei sentir, Eterna! ...
Como um rio em suas margens. Murmurando os lamentos soltos nas asas do vento, entre o beijar e bebericar com as pedras por onde passa.
Soltarei o pólen nos gestos, nas palavras que vos darão vontade de voltar atrás.
Atrás no tempo.
Atrás dos momentos, das parcelas divisórias que nos dividem os dias.
E os dias se dividem em horas, e as horas dividem a noite do dia ...
Sucessivamente cederemos a sucessões temporais.
Não pedimos conselhos ao tempo, nem este o parará para nós....
Revejo-me nos olhos de um livro, no espelhar das lágrimas que adornam as falésias dos sentimentos ...
Revejo-vos na água num posso que secou ...
Em todas as fontes onde bebi... Sem medo, sem horas, sem dias ...
Das mãos, solta-se mais uma folha, remexe os aromas que não ficaram esquecidos.
Sinto-me calma, tão calma que a melodia desta isenção de ruído, faz-me lembrar uma " Morna" ...
Escuta-a comigo...
Deixa que se solte nas páginas que não lês...
Acredita, só se vive uma vez! ...
Escuta...
Escuta ... escuta ...na sombra do livro inacabado.
Carinhosamente
Ana P.
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