20 agosto, 2012

CARTAS AO VENTO 19/08/2012


CARTAS AO VENTO 19/08/2012

Partira no sossego das páginas que virava. 
Falavam-me de mim, de ti... de outros.
De todas as telas que meus olhos pintaram. 

Desfolhando as páginas, baloiçava a corrente de ar de uma brisa envergonhada. 
Nas mãos. O tino segura fielmente o livro... 
Olhava para represa dos momentos que se deixaram ficar...
No peito, o beijar do coração liquefeito atenua a paz, da alma que sente que escolheu morar em mim...
Sozinha... 
Sou o albergue das noites clandestinas, o templo de orações que aprendi a decorar ... 
Fascínio do pecado apetecido.Sinais de desejos que não falam mas que aprendem a gritar.
A pagina do livro enegrecido. 
O ponto de luz, tua cruz. 
Silêncio imperfeito, a nascente no peito.
A muralha transversal, a solene conquista entre o bem e o mal. 
Sou a Arca... 
A Maré, uma Flor despida...
Gota de Sangue com vida ... 
Gaivota arrependida, Andorinha atrevida  ...
Sou o folheto da vida, numa obra inacabada.
Produto final, o desafio de cada moral .
Vácuo sentimental, de estações indefinidas.
Sou a teia, o jornal  ...
A fome, a gula o açúcar e o sal. 
O moliço de um espaço sideral, o cometa maternal ...
Sou! ...
....
Aladas as palavras que me procuram. 
Que gravitam na mente, encontram  o raciocínio dos sentidos que despertam razões, argumentam os factos de se existir depois de ...  
De Partir ... deixar de estar presente fisicamente ... 
Dar-vos-ei minha sombra num livro. 
Não será propriamente o céu. 
Nem um éden imune ás dores mas um ópio  necessário que procureis nas horas vivas, que se julgam, morrer ... 
Descreverei o Amor que agita o perfume da Saudade intemporal. ...
Eterna ...
Simpósio de cores vivas. 
Queda livre do voo, onde resgato os sonhos e liberdade de expressões que cedem valores ás palavras que me atrevo a vos escrever.
Fazer-me-ei sentir, Eterna! ...
Como um rio em suas margens. Murmurando os lamentos soltos nas asas do vento, entre o beijar e bebericar com as pedras por onde passa.

Soltarei o pólen nos gestos, nas palavras que vos darão vontade de voltar atrás.
Atrás no tempo. 
Atrás dos momentos, das parcelas divisórias que nos dividem os dias. 
E os dias se dividem em horas, e as horas dividem a noite do dia ...
Sucessivamente cederemos a sucessões temporais. 
Não pedimos conselhos ao tempo, nem este o parará  para nós....
Revejo-me nos olhos de um livro, no espelhar das lágrimas que adornam as falésias dos sentimentos ...
Revejo-vos na água num posso que secou ...
Em todas as fontes onde bebi... Sem medo, sem horas, sem dias ...

Das mãos,  solta-se mais uma folha, remexe os aromas que não ficaram esquecidos.

Sinto-me calma, tão calma que a melodia desta isenção de ruído, faz-me lembrar uma " Morna" ...

Escuta-a comigo...

Deixa que se solte nas páginas que não lês...
Acredita, só se vive uma vez! ...
Escuta...

Escuta ... escuta ...na sombra do livro inacabado.


Carinhosamente 


Ana P.

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